Autor:
Wilson Lazaretti
De 16 a 19 de dezembro de 2022, equipe do Núcleo realizou oficina na aldeia Bacaba, hoje São José, Escola Estadual Indígena Mãtyk, no município de Tocantinópolis-TO, com crianças do povo apinajé.
Este projeto se realiza com a técnica de desenho animado e outras técnicas de animação, produzidas diretamente na comunidades indígenas de todo o Brasil. A atividade no Tocantins foi a segunda, num projeto de continuidade que começou com uma oficina realizada em São Gabriel da Cachoeira-AM, na Escola Irmã Ines, de 02 a 07 de setembro de 2022.
Desta vez, foram mais de 15 crianças participantes. A maioria não falava Português; só Apinajé. Esta é uma observação importante, porque mesmo assim a transferência da didática de animação não encontrou nenhum problema.
Tínhamos conosco o coordenador da Escola Indígena, o professor Cassiano, e o professor Vanderlei, que muito colaboraram para a comunicação com o grupo.
Inicialmente as crianças se apresentavam muito tímidas e por isso, em vez de falar, partimos para a demonstração de como animar um desenho, com a mesa de luz e o aplicativo para a captura dos desenhos.
A arte da animação é uma coisa curiosa e acontece em qualquer cultura, pois no segundo dia de oficina as crianças perderam a timidez e avançaram organizadamente sobre as mesas de luz. Como acontece com qualquer ser humano, aberto o caminho para a expressão de seus sentimentos, a animação jorrou em quantidade; pareceu que tudo veio à compreensão da técnica, e é ai que nasce a verdadeira arte da animação.
A animação é uma técnica artística que envolve muitas
questões, dentre elas, a equipe de produção. Desta vez contamos com a
participação de Radostina Neykova (Bulgária), Fernando Galrito (Portugal),
Maurício Squarisi, Henrique Galvão e Wilson Lazaretti na monitoria para
animação. Na produção: Jhenissa Souza, Aline Campos, Janaína Rezende, Cleudimar
Alves da Silva e Diogo Barcot Tintor. E também Eliana Ribeiro e João Pedro
Felipe da Silva na pós-produção, e Anselmo Carvalho, músico trilhista para a
inserção de sons e música.
A produção contou com o apoio logístico, institucional e estimável da Universidade Federal do Norte de Tocantins e com o apoio institucional de Universidade Estadual de Campinas. Contou também com o apoio do Festival de Animação de Lisboa/Monstra/Portugal e do Fundo de Cultura da Bulgária.
Este treinamento, neste momento, não visa necessariamente a
produção de curta metragem de animação, mas sim a manipulação da técnica dos
equipamentos para despertar o interesse dos participantes, sendo eles crianças,
adolescentes e adultos para a arte da animação.
A arte da animação exerce seu poderio desde os tempos primordiais, quando ainda o homem registrava e celebrava suas conquistas no interior das cavernas, desenhando, não apenas estaticamente, mas também animadamente.
Este fascínio sobre a representação gráfica do movimento nos chega até hoje, através de algumas técnicas emprestadas de outras formas de artes, como o das artes visuais, cinema, teatro e outras completamente autóctones. E é o exercício delas que o presente projeto coloca em prática.
Compreender de forma gradativa essas técnicas é o que vai levar a produção de ideias mais longas, atendendo as necessidades específicas de expressão do Povos Originários.
As ferramentas que utilizamos para aplicar este conceito são: mesa de luz, mesa suporte de animação para filmagens e um aparelho celular com o aplicativo gratuito STOP MOTION STUDIO.
O Núcleo de Cinema de Animação de Campinas, doou uma mesa de luz, uma mesa suporte de câmera para cada projeto e um brinquedo óptico, o zootroscópio, que permanecem no local de produção.
A arte da animação se manifesta através de muitas técnicas: recortes,
sombra chinesa, animação de objetos, animação com pessoas...
Nossa preferência é para o desenho animado, uma técnica com a qual os Povos Originários mais se identificam, pois representam uma tradição milenar, que vai desde a pintura corporal até a grafia em objetos de cerâmica, utensílios domésticos e instrumentos de caça e pesca. Na técnica do desenho animado os indígenas têm a oportunidade de expor a impressionante qualidade de seu grafismo próprio, o que para nós, é a mais importante manifestação da identidade gráfica.
Vale aqui uma menção, pois o processo se iniciou com um outra oficina de animação, desta vez com a técnica de bordados animados, ministrada por Radostina Neykova na Universidade Federal do Norte do Tocantins, em 16 de dezembro de 2022:
Para o treinamento em animação, além de um grupo de crianças,
adolescentes e adultos interessados é recomendada a participação também de
professores e lideranças indígenas para que outras produções continuem após a
saída da equipe de produção do local.
Futuro:
Por enquanto todas as atividades são financiadas pelos
próprios participantes. Por isso, toda colaboração para fortalecer o orçamento
é bem-vinda.
Contato: ncacampinas@terra.com.br (Wilson Lazaretti)
Nenhum comentário:
Postar um comentário